Exercícios autónomos de um processo que percorre o meu trabalho, as três peças que apresento na exposição Anestesia Geral – que é também título de uma delas – reflectem uma produção fragmentada no tempo. Não sendo partes de um projecto específico, partilham a heterogeneidade das minhas apostas e a dispersão da minha produção artística. A mais antiga – Cut & Paste – data de 2007 e é um objecto ambivalente que sobrevive num limbo entre o utilitário e os objectos que produzo enquanto artista. Estas portas de vidro pintado com acrílico protegem (em casa) os meus discos do pó. Aqui, neste ensaio expositivo, retomam o seu propósito original: um enunciado deslizante, uma referência à colagem, à mixagem, à construção do pensamento através de mecanismos de apropriação, anexação e reconstrução aleatória.

As restantes peças, produzidas entre 2009 e 2010, convergem numa ideia de relaxamento e analgesia. Entre o descanso e a suspensão da consciência regresso ao tema do escape e analiso um modelo de sobrevivência: a insensibilidade à dor.

Escapando à responsabilidade ou adormecendo o sistema nervoso central, produzindo a inconsciência, uma paralisia controlada e temporária que nos afasta de nós precisamente durante o tempo necessário: adiamos o inevitável e comprazemo-nos num ócio indeclinável.


Luís Espinheira nasceu no Porto, 1979.

Em 2003 completou a licenciatura em Artes Plásticas-Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. È artista plástico representado pela galeria Pedro Oliveira desde 2005 e expõe regularmente desde 2001. No período de 2005 a 2008 coordena projecto de fotografia MATERIAprint,. Desde 2004 é colaborador criativo de vídeo para a companhia: Teatro de Ferro no Porto. Como docente, ligado ao ensino artístico exerce actividade desde 1999, actualmente lecciona na Escola Superior de Arte Design de Matosinhos. Desenvolve ainda actividade de fotógrafo profissional freelance.