O título Sub Rosa diz-nos que esta exposição de Nuno Ramalho tem como premissa o encoberto. Este termo é genericamente utilizado para a designação de algo que necessita de ser conhecido confidencialmente.

Com raízes etimológicas na antiguidade Egípcia, a conjugação das palavras sub (sob, debaixo) e rosa, tem servido, ao longo do tempo, para nomear reuniões e missões especiais, que necessitam, segundo quem revela, da circunscrição dos seus conteúdos a uma elite (no limite, entre duas pessoas – o sacerdote e aquele que se confessa, por exemplo).

Ao abrigo de Sub Rosa, e nas características privilegiadas do espaço da FUNDAÇÃO para acolher esta proposta, encontramos pistas subtis nos objectos que nos são apresentados, em jeito de sussurros, norteando o espectador na resolução de uma espécie de conspiração maior.

É então no jogo da composição e origem das obras presentes no espaço expositivo que o artista Nuno Ramalho nos enreda numa associação de elementos delicadamente descontextualizados, e com conteúdos inesperadamente disfuncionais.

A prova impressa de uma carta escrita por um soberano, responsabilizando o seu subordinado pelo respectivo abandono do posto de trabalho. A deformação de um instrumento musical de sopro, tornado impraticável na sua integridade original. A disposição nas prateleiras de uma trivial estante de armazém de – um desenho a grafite do busto de um velho calvo e barbudo, de costas viradas para um monocromo realizado com o mesmo material; uma reprodução em inglês de “O contrato social” de Jean-Jacques Rousseau; e, por último, uma singela tiara do género beauty queen.

Assim, e com estes dados, aparentemente inconciliáveis, que vão do desenho a grafite ao readymade (livro, tiara, estante), do readymade auxiliado (trompa) à impressão a jacto de tinta (carta), o artista incita-nos à recepção de um trabalho composto por momentos singulares, os quais, quando reunidos completam uma pasta imprescindível de provas, da presença de uma potência suspeita.

O espectador, então último legislador, é convidado a conceber as leis próprias que regem a sua experiência, in loco, com esta nova proposta de Nuno Ramalho.

Abril 2010, José Pereira

Nuno Ramalho nasceu em 1975. Vive e trabalha no Porto. É licenciado em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e possuí um mestrado em New Genres pelo San Francisco Art Institute. Desde 1999 que trabalha no campo das artes visuais, tanto individualmente como em colaboração com outros artistas, em áreas como o desenho, instalação, escultura, performance, som, vídeo e práticas curatoriais.

Participou em exposições individuais e colectivas em Portugal, Brasil, Espanha, Noruega, Rússia e Estados Unidos da América. Em 2002 foi artista residente na Triangle France, em Marselha, França, e em 2004 foi um dos nomeados para o prémio EDP Novos Artistas. Bolseiro da Fulbright Comission/Fundação Carmona e Costa em 2006 e 2007, recebeu igualmente a Louise Woods Memorial Scholarship. Entre 2000 e 2005 colaborou com o Serviço Educativo do Museu de Serralves. É representado pela galeria Graça Brandão.